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Diretor do BNDES afirma que países que devem ao Brasil não terão financiamento do banco

Diretor do BNDES afirma que países que devem ao Brasil não terão financiamento do banco

18 de setembro de 2023

O diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, José Gordon, afirmou em uma entrevista ao GLOBO que o banco voltará a financiar exportações de serviços de engenharia, mas somente após a aprovação de um projeto de lei que deixará claro que países que devem o Brasil só poderão tomar novos empréstimos se estiverem em dia com o pagamento dos empréstimos.

Gordon explicou que este é um dos pilares previstos no texto, que deverá ir para o Congresso ainda este ano.

O Projeto de Lei (PL) ao qual o diretor do BNDES se refere é um projeto que se contrapõe a uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) encaminhada pela oposição ao Congresso para proibir qualquer tipo de financiamento à exportação de serviços pelo banco.

Segundo ele, o PL dará mais transparência e terá como referência práticas com base na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O texto também prevê a criação de um eximbank, para financiar as operações.

Gordon enfatizou que o BNDES só voltará a financiar exportações de serviços após a aprovação desse texto. Esse tipo de operação não é realizada desde 2016, quando as empreiteiras passaram a ser investigadas pela Operação Lava-Jato.

— Se os países não renegociarem as dívidas, não vão receber produtos ou serviços brasileiros. Isso já existe na regra do banco, mas vamos colocar em lei — disse.

Atualmente, Venezuela e Cuba passam por dificuldades econômicas. Beneficiados com o financiamento de obras públicas – como os casos emblemáticos do metrô de Caracas e do porto de Mariel – esses países não podem receber mais recursos enquanto não quitarem o que devem.

— Exportando, o Brasil vai aumentar a capacidade de gerar empregos — afirmou o diretor do BNDES.

Gordon explicou que o banco não financia diretamente os países, e sim empresas brasileiras que querem vender produtos ou serviços. E quando os empréstimos não são pagos, o banco é ressarcido com o Fundo Garantir de Exportações, vinculado ao Ministério da Fazenda.

— Mais de 90 países têm instituições similares ao que o BNDES faz. Estados UnidosCanadáChinaCoreia do SulAlemanha usam a estrutura pública para financiar as exportações de bens de capital, aeronaves, ônibus, entre outros itens. O papel do financiamento público é fundamental para apoiar a exportação — argumentou Gordon.

Ele enfatizou que, nos principais países que estão no mercado internacional, o setor público responde por 8%. Na Coreia do Sul, a parcela é de 20%, enquanto no Brasil a participação fica em apenas 0,3%.

Segundo o diretor, os recursos que estão no Fundo Garantidor não são bancados pelo contribuinte. A empresa exportadora paga um prêmio alto e o Tesouro administra o dinheiro. Outro dado é que 35% do que o BNDES apoiou em exportação de serviços foram para máquinas e equipamentos.

— Muitos desses produtos são de pequenas empresas. Não existe uma demanda ainda, mas queremos voltar a apoiar a exportação de serviços. O BNDES é um dos bancos mais transparentes do mundo — disse.

Gordon está otimista quanto à aprovação do projeto. Disse que o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), responsável pelo texto no Executivo, já recebeu aval do Tribunal de Contas da União (TCU), tem sido largamente debatido com os parlamentares e conta com o apoio do setor privado.

— Vamos ter o desafio de reestruturar os setores, principalmente o de máquinas e equipamentos. Vamos reconstruir o que a Lava-Jato destruiu de forma errada.

Na avaliação do diretor do BNDES, a PEC da oposição – que está na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara – dificulta o financiamento de exportações pelo banco.

— A PEC, como está colocada, determina que toda vez que a Embraer, por exemplo, for pegar financiamento, a operação terá de ser aprovada pelo Congresso. Isso tira a liberdade empresarial.

Perguntado sobre a Argentina, cuja economia está quebrada e precisa de recursos até para importar, Gordon disse que o assunto preocupa oito de dez empresas brasileiras. A questão, enfatizou, é que o país tem de apresentar garantias para financiar suas compras.

— Sem garantia, o BNDES não irá apoiar nenhum tipo de financiamento para a Argentina — afirmou.

FONTE: O Globo
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