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OMC: efeitos da pandemia ainda não afetam os dados da balança comercial

14 de abril de 2020

Os efeitos da pandemia ainda não aparecem nas estatísticas do comércio exterior. Um estudo divulgado no website da Organização Mundial do Comércio (OMC) estima que a queda no comércio mundial irá variar entre 12,9% (cenário otimista) e 31,9% (cenário pessimista). No entanto, como salientado no estudo, essas são projeções preliminares, pois incertezas quanto à duração, à intensidade e à expansão geográfica do COVID-19 dominam o cenário mundial.
No caso do Brasil, o saldo da balança comercial no mês de março foi de US$ 4,7 bilhões, superior em US$ 417 milhões ao resultado de março de 2019. No acumulado do trimestre, porém, o superávit de 2020 no valor de US$ 5,6 bilhões foi inferior aos US$ 9 bilhões do primeiro trimestre de 2019.
No mês de março, as exportações, em valor, aumentaram 10,4% e as importações, 10,6%, em relação a março de 2019. Na comparação entre os dois primeiros trimestres de 2019 e 2020, entretanto, as exportações recuaram em 9% e as importações aumentaram em 4,3%
O mesmo comportamento é observado nos índices de volume dos fluxos de comércio. As exportações registraram variação positiva interanual de 13,0% e as importações, 14,6%, entre os meses de março. Desde outubro as exportações estavam recuando na variação mensal entre 2019 e 2020, à exceção de dezembro quando ficou estagnada. As importações, por outro lado, vinham aumentando, desde dezembro. No estudo citado da OMC é ressaltado que o comércio mundial já estava em ritmo de desaceleração, desde 2019, em função das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China. O comércio mundial recuou 0,1% entre 2018 e 2019.
Os termos de troca subiram entre fevereiro e agosto de 2019, depois declinaram e ficaram estáveis desde dezembro de 2019. O comportamento dos termos de troca é influenciado pelo preço das commodities que representam cerca de 60% das exportações brasileiras. Na comparação entre os meses de março de 2019 e 2020, os preços das commodities recuaram 1,6% e do trimestre aumentaram 1,9%. Esse resultado levou a uma queda de 2,4% no preço das exportações totais em março e de 0,1% na comparação dos trimestres de 2019 e 2020. Os preços das importações totais recuaram em 3,5% na comparação mensal e 2,5% entre os o acumulado até março de 2019 e 2020.
O comportamento desfavorável dos preços das exportações significa que o crescimento das exportações fica dependente do aumento do volume, um resultado mais difícil de ser garantido em um ano em que se espera uma recessão mundial.
Os índices de volume exportado para os principais mercados mostra variações positivas na comparação entre o acumulado do ano até março de 2019 e 2020 para o mercado da China e Ásia (exclusive China e Oriente Médio). Em todos os meses do trimestre as exportações para esses mercados cresceram em relação aos meses de 2019. Os maiores percentuais foram registrados na comparação mensal de março de 2019/2020: China, 12,1%; e, Ásia (exclusive China e Oriente Médio), 44,7%. No caso da China, os aumentos, em março, estão associados ao crescimento das vendas de soja (44%), minério de ferro (21%) e carne bovina (116%). Para o segundo semestre, as exportações para a China poderão cair com a redução dos embarques da soja. No entanto, se a economia chinesa voltar a crescer no final do primeiro semestre, como mostram algumas projeções, é possível que seja observado um maior crescimento das vendas de carne e minério. No caso da carne, no entanto, lembramos que se o acordo comercial com os Estados Unidos estiver em vigor, o Brasil poderá enfrentar maiores obstáculos para entrar no mercado chinês, em função das preferências concedidas aos Estados Unidos.
No mês de março, todos os setores registraram variação positiva em relação ao ano anterior, com destaque para a agropecuária com aumento de 28,6%. No caso da indústria de transformação, o resultado foi influenciado pelas vendas de óleo combustível (quarto principal produto da pauta, com aumento de 310%). Na comparação do trimestre, entretanto, apenas a agropecuária apresentou aumento de 1,4 %.
Chama atenção o aumento do volume importado pela indústria de transformação seja na comparação mensal (18,0%) ou trimestral (9,1%). Os contratos no comércio exterior não se traduzem em movimentos de embarque e desembarques imediatos. Sob esse prisma, os resultados podem ainda estar refletindo expectativas de um maior crescimento do nível de atividade em 2020 em relação a 2019.
A variação mensal do volume exportado da indústria de transformação foi positiva para todas as categorias de uso, exceto bens de capital. Ressalta-se o aumento de 6,2% para os bens de consumo duráveis, onde o aumento em valor de 320% de vendas de automóveis para o México explica em parte esse resultado.
Os volumes importados pela indústria de transformação de bens de capital e bens intermediários aumentaram 12,6% e 24,8% entre março de 2019 e 2020, o que indica um sinal positivo para o crescimento do setor. No entanto, como já exposto anteriormente, não esperamos que continue essa tendência de alta. A expectativa de piora na demanda da economia deverá levar a uma queda nas importações nos próximos meses.
Quando comparamos as compras de máquinas e equipamentos da indústria e da agropecuária, a queda de 35,8% para esse último setor em março pode causar surpresa. No entanto, em janeiro, as importações do setor aumentaram 76,5%, em relação a janeiro de 2019. Expectativas de novas desvalorizações e a colheita de soja e outros grãos no primeiro semestre explica esse resultado.
Perspectivas?
Projeções num mundo onde dominam as incertezas serão sempre sujeitas à revisões e erros. As expectativas são a de que o comércio mundial deverá apresentar um desempenho pior do que a crise financeira de 2009, quando o volume recuou 12,1%, mas já em 2010 ele cresceu 14,4%. Não só a queda em 2020 pode ser maior, mas a recuperação mais lenta. A crise do COVID-19 afetou o transporte de cargas e pessoas, canais de logística e as cadeias globais de valor. Surge um debate se os países irão rever suas políticas, em especial naqueles setores onde a dependência das importações é elevada. Em outras palavras, o mundo será mais protecionista.
No momento, as políticas comerciais têm reagido às condições em cada país. Estados Unidos e países europeus restringem exportações e o Brasil zerou as alíquotas de importações de 177 produtos. Alguns desses produtos tinham alíquotas elevadas de 35% (17 produtos), 26% (6 produtos), 20% (4 produtos), 18% (29 produtos), 16% (21 produtos), 12% (40 produtos) e o restante alíquotas que variam de 10% (2 produtos) a 2% (16 produtos).
Uma segunda questão é se o país conseguirá obter os suprimentos necessários. Nesse momento, o Brasil se depara com a questão de quanto cada país concorrente está disposto a pagar a mais do que nós; e, no caso da China, além dos preços também conta a avaliação do parceiro. Ter boas relações com a China, nosso principal parceiro comercial, sempre foi importante para assegurar as exportações das commodities brasileiras e, agora, também o é para ter acesso aos equipamentos médicos.
Fonte: Ascom/FGV

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